Trabalho da Go Associados indica que a inclusão no PNI de vacinas pode ter impulsionado um aumento de cerca de 63,8 pontos porcentuais na cobertura vacinal, levando à economia de quase 40% em gastos hospitalares com infecções evitadas; extrapolação para Covid-19 indica economia de R$ 2,9 bilhões na pandemia
06/01/2025
Desde 2016, as coberturas vacinais de diferentes doenças vêm diminuindo no País1, acendendo um alerta sobre a necessidade de identificar os fatores associados a essa queda. Compreender essas causas é fundamental para desenvolver soluções capazes de restabelecer os índices positivos e históricos, que fizeram do Brasil uma referência mundial em campanhas de imunização.
Para tentar responder à preocupação com relação ao atual cenário da cobertura vacinal no País, a Pfizer Brasil se uniu à consultoria GO Associados para realizar o estudo Impactos do Aumento da Cobertura Vacinal nos Gastos Hospitalares do SUS. O levantamento avaliou os impactos nos gastos públicos hospitalares a partir do aumento da cobertura vacinal, com alguns recortes temporais, mediante a incorporação de cinco vacinas ao Programa Nacional de Imunizações (PNI): rotavírus, pneumocócica 10, meningocócica C, hepatite A e varicela (catapora), entre os anos de 1999 e 2019 – ou seja, em um cenário pré-pandêmico.
Com o objetivo de apontar novas oportunidades para as políticas públicas na saúde, a análise considerou os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) entre 2014 e 2019 e foi extrapolada para um conjunto de 16 enfermidades. Essa lista inclui, além das cinco vacinas inicialmente analisadas, também os imunizantes para: febre amarela, tuberculose, difteria, tétano, coqueluche, influenza, hepatite B, poliomielite, sarampo, caxumba e rubéola2.
Por fim, um exercício ilustrativo considerando as mesmas estimativas também foi realizado para o contexto da pandemia, considerando o período compreendido entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022, com foco na inclusão das vacinas contra a covid-19 e influenza.
Com o objetivo de apontar novas oportunidades para as políticas públicas na saúde, a análise considerou os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) entre 2014 e 2019 e foi extrapolada para um conjunto de 16 enfermidades. Essa lista inclui, além das cinco vacinas inicialmente analisadas, também os imunizantes para: febre amarela, tuberculose, difteria, tétano, coqueluche, influenza, hepatite B, poliomielite, sarampo, caxumba e rubéola2.
Sobre o estudo
A pesquisa combina exercícios econométricos de inferência causal para avaliar em que medida a inclusão de uma vacina no PNI afetaria os gastos hospitalares no SUS. Para tanto, foram coletados dados de dois sistemas públicos do Departamento de Informação e Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS): o Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) e o Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).
Os imunizantes introduzidos no PNI e as doenças de interesse foram pareadas a partir da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-10). Preliminarmente, as estimativas consideraram a inclusão das vacinas contra rotavírus, varicela (catapora), hepatite A, pneumocócica 10 e meningocócica C. As cinco vacinas selecionadas correspondem a 29% do total de doses aplicadas no ano de 2023.
De acordo com a análise, a inclusão dos imunizantes no PNI estaria associada ao aumento de cerca de 63,8 pontos porcentuais na cobertura vacinal para as cinco doenças. Com um crescimento como esse, pode-se esperar uma economia de aproximadamente 39,5% nos gastos hospitalares relacionados às doenças preveníveis pelas vacinas analisadas.
Considerando os gastos de R$ 430 milhões por ano registrados na base de dados do SUS, entre 2014 e 2019, e extrapolando tais resultados para o conjunto mais amplo de 16 doenças, o estudo sugere que houve uma economia de R$ 280 milhões em custos do SUS relacionados ao tratamento dessas enfermidades no período. Isso significa que os gastos públicos hospitalares poderiam ter sido de R$ 710 milhões por ano no período, caso os imunizantes não tivessem sido incluídos no PNI.
Para fins de comparação, o maior orçamento já disponibilizado para campanhas de vacinação foi de R$ 90 milhões, em 2018, o que representa menos de um terço do valor total economizado pelo SUS.
“As coberturas vacinais vinham caindo antes mesmo da pandemia, um desafio que buscamos entender para encontrar formas de colaborar com as políticas públicas de saúde. Precisamos voltar a alcançar os 90% de cobertura recomendados para evitar que doenças que estavam erradicadas ou controladas voltem3 a oferecer risco para a população, principalmente para os grupos mais vulneráveis, como as crianças”, diz a diretora médica da Pfizer Brasil, Adriana Ribeiro.
“A incorporação das vacinas no sistema único de saúde indica resultados positivos e pretendidos pelos gestores públicos. Por um lado, a população fica protegida e, por outro, o sistema de saúde poupa seu orçamento. Com base nos resultados do estudo e em determinadas premissas, a cada aumento de 10 pontos percentuais na cobertura vacinal, economiza-se 6,2% nos gastos públicos do SUS”, explica Gesner Oliveira, professor da Fundação Getúlio Vargas e sócio da GO Associados.
Entre os achados da investigação, a desinformação relacionada às vacinas pode ter sido um fator que influenciou nas quedas das taxas de imunização nos últimos anos. A partir da observação desses resultados, são indicadas recomendações de políticas públicas de enfrentamento das doenças preveníveis por vacinação, com foco no combate às fake news relacionada às vacinas, especialmente nas redes sociais.
“É com informação que poderemos orientar as decisões dos pais sobre a vacinação de seus filhos e combater a hesitação vacinal, ou seja, quando a pessoa evita a imunização por dúvidas ou medo relacionado à segurança pessoal e de dos filhos”, comenta a diretora de Primary Care na Pfizer Brasil, Camila Alves.
Os cinco imunizantes inicialmente analisados no estudo são aplicados no público infantil, de até 4 anos de idade, o que reforça a importância da conscientização dos pais para recuperar as taxas adequadas de cobertura vacinal. “A infância é um momento importante porque as crianças ainda estão desenvolvendo seu sistema imunológico, por isso enfatizamos a importância da imunização sobretudo nesse período. Estar desprotegido, com esquemas vacinais incompletos, é perigoso. Recuperar essas coberturas é prioridade dos órgãos de saúde e na Pfizer seguimos apoiando nesse objetivo”, afirma Adriana.
Cobertura vacinal no Brasil
As cinco vacinas inicialmente avaliadas no estudo apresentaram queda acentuada nas coberturas nos últimos anos. Considerando o período que terminou em 2019, as taxas eram: 34,2% ante 90,2% em 2004 para tetra viral e varicela; 89,1% ante 95,3% em 2013 para pneumocócica-10; 85,4% para rotavírus ante 95,3% em 2015; 85% ante 97,1% em 2015 para Hepatite A; 70,8% ante 99% em 2011 para meningocócica C.
Em relação ao período pandêmico, as quedas se acentuam de 34,2% para 6,3% em 2021 para tetra viral e varicela; de 89,1% para 74,8% em 2021 para pneumocócica-10; de 85,4% para 71,8% em 2021 para rotavírus; de 85% para 67,5% em 2021 para hepatite A – com estabilidade apenas para meningocócica C, de 70,8% para 71% em 2021.
Covid-19 e Influenza
O estudo apresenta também uma estimativa do impacto das vacinas contra covid-19 e influenza nos gastos hospitalares do SUS no contexto pandêmico, considerando o período entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022. Em média, estima-se que a introdução da vacina contra a covid-19 possa ter economizado cerca de R$ 2,9 bilhões no período – o valor seria de R$ 16,4 milhões no caso da influenza. Supondo um cenário de cobertura total, ou seja, 100% da população elegível vacinada, o sistema público poderia ter economizado de R$ 25,7 milhões (com influenza) a R$ 4,5 bilhões (com covid-19). Esses valores representariam uma redução de cerca de 62% nos gastos públicos.
“A recuperação dos índices de cobertura vacinal depende de diferentes esferas da sociedade, o que inclui não apenas a saúde pública, mas também a educação, as famílias e as corporações. A Pfizer faz parte desse ecossistema e continua comprometida com o objetivo de entregar inovações científicas e informações de qualidade que melhorem a vida dos brasileiros”, afirma Camila. “Fortalecer a conscientização sobre os riscos das doenças e a segurança das vacinas, além de atuar para expandir o acesso na saúde pública são os condutores que podem ajudar a impulsionar a proteção coletiva”, complementa.
Conclusões
Além da desinformação relacionada às vacinas, outro fator que pode ter influenciado nas quedas das taxas de imunização seria a baixa percepção de risco em relação às doenças controladas por vacinação.
Com o passar do tempo, os casos e a gravidade dos quadros de saúde associados a doenças preveníveis diminuem, de modo que a população perde a memória da experiência com a enfermidade – ou, ainda, novas gerações nem sequer conhecem os riscos dessas doenças.
A baixa percepção de risco afeta as coberturas pois perde-se o medo ou o estado de alerta em relação às doenças, enfraquecendo a confiança na eficácia das vacinas e na própria necessidade de se proteger dessas enfermidades. As consequências disso são o desinteresse e a falta de comprometimento em atualizar a carteira vacinal4.
Nesse contexto, campanhas de incentivo à vacinação – reforçando a importância da manutenção do cronograma completo de doses, bem como a segurança e as evidências científicas das vacinas – continuam a ser importantes e necessárias ferramentas no combate às fake news, podendo contribuir para o aumento da cobertura vacinal da população.
Referências
1. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Brasil reverte tendência de queda nas coberturas vacinais e oito imunizantes do calendário infantil registram alta em 2023. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2023/dezembro/brasil-reverte-tendencia-de-queda-nas-coberturas-vacinais-e-oito-imunizantes-do-calendario-infantil-registram-alta-em-2023. Acesso em 13/11/24.
2. BOCCOLINI, PATRÍCIA DE MORAES MELLO et al. Dataset on child vaccination in Brazil from 1996 to 2021. Scientific Data, v. 10, n. 1, p. 23, 2023. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/57629. Acesso em: 13/11/2024.
3. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. A importância da escola no aumento da cobertura vacinal. Disponível em: https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/vacinas/a-importancia-da-escola-no-aumento-da-cobertura-vacinal/. Acesso em 13/11/24.
4. CRUZ, ADRIANE. Revista Consensus – FioCruz. A queda da imunização no Brasil.p20. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/sites/portal.fiocruz.br/files/documentos/revistaconsensus_25_a_queda_da_imunizacao.pdf. Acesso em: 13/11/24